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Instruções[]

Enquanto um grupo de afinidade é uma estrutura transitória baseada em uma colaboração existente, um coletivo é uma instituição mais permanente na qual a colaboração acontece e amizades podem florescer. Indivíduos podem entrar e sair de diferentes coletivos, como o sangue que circula pelos órgãos, mas os coletivos permanecem, oferecendo continuidade e infraestrutura.


Um coletivo pode ser um circulo fechado, assim como um grupo de wheatpasting (veja Wheatpasting na página XXX), ou ele pode ser mais fluido, um arranjo no qual qualquer um pode participar, como, por exemplo, o grupo Food not bombs (veja Food not Bombs, página XXX). Freqüentemente, como é o caso de uma banda folk anarquista que chama roadies diferentes toda vez que sai para um tour, o formato do coletivo é algo entre os extremos. Coletivos podem servir as necessidades dos indivíduos que o formam, assim como o clube do livro o faz, podem servir as necessidades de sua comunidade, como o coletivo women’s health care o faz (veja Health Care, pagina XXX), ou podem servir as necessidades de outras comunidades, como o grupo de suporte aos prisioneiros faz ao enviar livros para os encarcerados. Na melhor das hipóteses, todos que entrarem em contato com coletivos acabam participando e se beneficiando de alguma forma; essa é a idéia de pensar e agir coletivamente.

Cooperação e consenso[]

Grupos de afinidade e coletivos podem se distinguir de outras estruturas organizacionais na forma em que eles são, explicitamente, não hierárquicos. De uma forma ideal, todos os participantes têm voz igual nas atividades do grupo. Não há posições de liderança; todo esforço feito é para manter o poder e a influência de ser centralizado nas mãos de qualquer indivíduo ou facção. Decisões são feita através do consenso ao invés da votação, assim elas contam com a aprovação de todos os envolvidos.


Dessa forma, grupos de afinidades e coletivos oferecem uma base para a autonomia individual na ação coletiva. Para que isso seja possível, porém, os integrantes têm que estar eles mesmos inseridos em uma base de relações que dão apoio e que são liberadoras. Estruturas e procedimentos igualitários não conseguem substituir sensibilidade e boa vontade; na melhor das hipóteses, eles podem facilitar o caminho para eles. Enquanto tantos aspectos importantes da colaboração são determinados informalmente, participantes de coletivos devem buscar manter vivo, neles mesmos, as atitudes e hábitos necessários para que a coexistência e a cooperação venham naturalmente.


Zonas Autônomas Expansíveis[]

Ao invés de aumentar os recursos ou o poder de indivíduos, coletivos constroem poder dividido. Em um sistema competitivo, a vida é um jogo em que não há lucro, na qual alguém somente pode prosperar nas custas de outros. Em um sistema cooperativo coletivos buscam empregar, por outro lado. Quanto mais as pessoas investem, mais todos se beneficiam. Da mesma forma, ao estabelecer e manter um coletivo, indivíduos não concentram o poder neles mesmos, mas constroem uma estrutura da qual todos podem se beneficiar. O dinheiro que um coletivo gera não é do tipo que alguém pode usar para comprar seguros; ao invés disso, são as redes de ajuda mútua e a ligação emocional duradoura que podem ser oferecidas para as pessoas mesmo quando os seguros falham.


Na melhor das hipóteses, projetos de coletivos são contagiosos, espalhando o espírito e a estrutura colaborativa para quem os encontra. Isso pode ser feito ao se convidar novos participantes para os seus quadros ou ao demonstrar as vantagens dos métodos que outros podem usar por eles mesmos.


Harmonia, não unidade[]

Muitos ativistas se aproximam de projetos de coletivos com a idéia de que, para que possam trabalhar juntos, ser ou parecer sinceros, ou conquistar grandes coisas, todos os membros do coletivo devem participar de uma plataforma política comum, um estilo de vida específico, e seguir uma conduta de vida rigorosa. E você pensava que a pressão de ser igual era grande no ensino médio! Essas chamadas ideologias radicais assim como o comunismo que negligenciaram existir sem a hierarquia têm, historicamente, demandado esse tipo de padronização entre seus participantes, e têm, conseqüentemente, acabado com movimentos estéreis, arte, e sociedades; por outro lado, o pensamento anarquista sugere que a diversidade é necessária para qualquer ecossistema ou organização. Maior diversidades oferece uma grande diversidade de inspiração e idéias para se aproximar, mesmo quando eles tentam se homogeneizar, qualquer sistema de valor que encoraja a conformidade pode apenas plantar desonestidade e relações superficiais e projetos.


Um coletivo de clones pode fazer, na melhor das hipóteses, uma coisa bem; um círculo de indivíduos únicos pode fazer várias coisas diferentes que se complementam. Os melhores coletivos são aqueles que envolvem e usam tudo o que seus diferentes membros têm a oferecer, não aqueles que se impõe limitações e usam apenas o que seus membros têm em comum. Assim como uma banda precisa de músicos que tocam diferentes instrumentos, associações saudáveis não restringem seus participantes com compromissos que os forçam a se limitar às coisas que todos têm em comum, mas integram suas diferenças em algo maior do que somente a soma de seus participantes.


Trabalhar e viver nesse tipo de arranjo, no qual cada um é consciente que ele é responsável por fazer os projetos e relacionamentos funcionar, ajuda se você aprender a ver você mesmo como parte de uma rede de relações humanas, ao invés de um indivíduo isolado contra o mundo. Sob essas circunstancias os desejos dos outros devem ser levados mais a sério que o seu próprio. Isso pode realmente permitir que o indivíduo seja uma pessoa mais completa, na medida em que suas companhias podem representar partes dela mesma por ela, de uma forma que ela mesma não iria expressar. Em última instancia, todos são um produto do mesmo mundo, de qualquer forma. Estamos todos interconectados, cada um de nós manifestando diferentes aspectos do mesmo jogo de forças. Sem esse insight, nossa cooperação e comunidades só podem ser insignificantes e acidentais.


Eventualmente, para que o indivíduo experiente em viver em comuna e agir coletivamente, torna-se possível entender o universo inteiro como um vasto, porém disfuncional, coletivo; o problema é, simplesmente, como fazer ele funcionar de uma forma de favoreça mais de uma pessoa. Isso não é o mesmo que dizer que fascistas e machistas podem continuar com seus negócios da forma de quiserem e “fazer parte do nosso coletivo” – eles seriam os primeiros e se negar a isso. Porém, o principal argumento do fascismo e do pensamento reacionário sempre foi que a cooperação e a autonomia são mutuamente exclusivas, que as pessoas têm que receber ordens e ser controladas senão elas não farão nada exceto ser preguiçosas e se matar. Quanto mais nós demonstrarmos que isso não é verdade, menos apelo seu discurso terá.


Diversidade[]

Começar com a diversidade é tão importante quando mantê-la. Todo mundo é único, obviamente, e pode acontecer de terem mais divergências de personalidade, talentos e experiências duas pessoas que foram criadas de forma similar do que entre indivíduos de diferentes classes sociais. Porém, isso dito, pode ser muito positivo para coletivos incluir membros de diferentes sexos, idades, classes sociais e culturas. Quando pessoas de origens tão diferentes aprendem a compreender e respeitar as perspectivas do outro, a complementar os pontos fortes e fracos do outro, e a formar uma relação simbiótica baseada em suas diferenças, isso é ação revolucionária, mesmo que seja somente um pequeno grupo no momento. Isso não é o mesmo que dizer que você deve recrutar pessoas para o seu coletivo baseado na raça ou gênero somente – isso soa condescendente, no mínimo - mas viajar em diversos círculos, se aproximando das amizades que se desenvolveram naturalmente dentro deles e assumir projetos de coletivos, isso é do seu interesse.


Obviamente, coletivos compostos de membros que têm amplas diferenças de privilégios entre si terão que trabalhar mais para aprender a interagir como iguais (veja Underminig Opression, pg XXX). Padrões opressivos – pessoas da classe média com tendências a tomar conta da organização, pessoas da classe trabalhadora fazendo somente o trabalho físico, homens fazendo decisões que excluem as mulheres e aí por diante – venha fazer parte do nosso coletivo, longe do mundo hierárquico que nos criou; vamos fazer desses grupos sociais laboratórios nos quais aprendemos como quebrar esses padrões, em uma preparação para quebrar esse mundo.


As proporções de pessoas diferentes dentro de um coletivo normalmente têm grande influência em sua dinâmica interna. Por exemplo, é melhor que haja duas pessoas que se identifiquem como mulheres em cada coletivo, se possível: um grupo só de homens vai, inevitavelmente, esquecer de algumas perspectivas importantes, e uma mulher sozinha em um grupo de homens vai ter que lidar com muita frustração sozinha. Grupos só de mulheres, por outro lado, podem ser inspiradores para outros, e podem funcionar como “espaços seguros” que são mais confortáveis para as participantes do que trabalhar em companhia mista (mais uma vez, veja Undermining Opression, página XXX).

Comprometimento[]

Comprometimento é para os coletivos o que XXXXX(ISSO TEM QUE SER COLOCADO DE ACORDO COM A TRADUÇÃO PARA OS GRUPOS DE AFINIDADE) é para os grupos de afinidade; é a pedra na qual comunidades podem construir seu poder e se organizar. Quando você desiste de todas as seguranças que o capitalismo assegura para os seus falsos ricos, vocês vão precisar de compromisso um do outro mais do que qualquer coisa.


O mundo em que vivemos, ou melhor, qual mundo em que vivemos, depende inteiramente dos nossos investimentos: nós passamos nossa vida nesse mundo de liquidações, salários, alugueis e jaulas porque todos os dias as pessoas acordam e – sem ver outra opção viável – investem sua energia e ingenuidade nessas estruturas, assim as perpetuando. Se você pode, de alguma forma, se investir em criar e perpetuar outro mundo, esse mundo vai existir, no mínimo, aonde você existir – essa é a lógica de se viver um estilo de vida radical. Agora, uma pessoa vivendo sozinha e acreditando contra o XXXX mal pode sobreviver, quem dirá fazer um impacto real; porém, uma pequena tribo de pessoas se apoiando e sustentando pode florescer e ajudar outros a abrir portas para novos mundos por eles mesmos.


Comunidades anarquistas, na melhor das hipóteses, são essas tribos, todos trocando apoio e inspiração entre si e ajudando a plantar as sementes que podem se tornar novas realidades. O elemento mais decisivo que determina o que uma comunidade pode ou não fazer é o comprometimento de seus participantes. Um grupo de pessoas que estão prontas para passar por tudo juntas, que sabem que serão leais umas com as outras e que serão leais com seus sonhos mesmo nas mais difíceis épocas, não precisa ser perfeito; a medida que o tempo passar, eles vão aprender que eles precisam aprender e vão melhorar o que precisam melhorar.


Quando você está considerando com que trabalhar, características como experiência, conhecimento técnico, e acesso a equipamento deve ser secundário – uma pessoa que não tem nenhuma dessas características, mas possui um desejo ardente de conquistar grandes coisas pode adquiri-los eventualmente. Da mesma forma, se você quer conseguir qualquer coisa trabalhando em grupos cooperativos de qualquer tipo, as características mais importantes que você pode desenvolver você mesmo são comprometimento, dedicação, se confiável e responsabilidade. Não deixe as pessoas na mão, não importa quais desafios você encontre. Deixe os outros saber que suas através de suas ações que eles podem contar com você para qualquer coisa que vocês decidam fazer juntos.


Três pessoas podem dividir e minimizar aluguel e custos de comida, cobrir a cidade de pôsteres e grafites, e organizar uma creche coletiva de meio-período; Dez podem cultivar um jardim comunitário, operar uma loja de eletrônicos ou um jornal e formar uma banda radical; 100 podem transformar a vizinhança em uma zona autônoma, organizar demonstrações que param a cidade, e sair pelo país para dividir essas habilidades com 10.000 ou mais – mas tudo isso depende do comprometimento!


Divisão de trabalho, especialização e poder[]

Para prevenir uma greve interna ou a centralização do poder, coletivos farão bem de desconfiar divisões de trabalho de longa duração. Uma divisão de trabalho estabelecida significa que cada membro se torna especializado nas suas tarefas particulares – e, freqüentemente, com o papel que acompanha esses tarefas. Uma vez que os membros de um coletivo se dividiram em diferentes papeis, eles tendem a ter necessidades conflitantes em decorrência desses papeis e um desequilíbrio de poder se segue.


Para um exemplo dos perigos da especialização excessiva, vamos observar um comumente negligenciado exemplo de coletivo: a banda de punk ou rock coletivo. Muitas bandas políticas experienciam uma desordem interna na qual uma fissura se desenvolve entre o cantor e os outros membros. Já provavelmente extrovertido e de temperamento expressivo, o cantor se descobre no papel de porta voz de toda a banda: espera-se que ele componha letras e explique as músicas, domine a maioria das perguntas de entrevistas e introduza as músicas enquanto os outros membros da banda afinam os seus instrumentos. Tudo isso serve para reforçar as tendências autoritárias inerentes do cantor – não vamos nos enganar, todos temos um pouco disso – até que ele comece a tomar o poder da sua posição como algo certo.


A melhor analogia para usar aqui é a do Estado Comunista: o canto se torna o partido, cujo fardo de homem branco é educar as massas, começando, é claro com os proletariados de sua própria banda: os outros membros, aqueles que de fato fazem o produto – a música. Ele, obviamente, está somente dando voz às políticas que eles já têm inconscientemente: ele é a vanguarda, e isso lhe dá a importante responsabilidade de gerenciar o seu trabalho, representando seus interesses, dando declarações no nome do grupo e assim por diante.


Ser capaz de expressar seus sentimentos em palavras, falar o que pensa publicamente, articular idéias complexas de improviso, todas essas são habilidades valiosas de se ter – o problema não é que o cantar que exemplificamos exercita isso, mas que essa especialização dentro do formato tradicional de banda tende a desenvolver essas habilidades em uma pessoa e não nas outras. O cantar pode muito bem falar e organizar coisas que precisam ser faladas e organizadas, e ele, ou ela, por esse motivo, ser aquele que toma para si grande parte da responsabilidade de assuntos importantes como o relacionamento entre a banda e outras pessoas – mas normalmente, essa especialização não é sustentável, e nunca é saudável. São desenvolvidas tensões entre os diferentes estratos sociais da banda agora que eles têm interesses diferentes graças aos seus papeis diferentes.


Esse é apenas um dos incontáveis exemplos do modo que a especialização pode concentrar e criar discórdia dentro de um coletivo. Mesmo nos coletivos em que a divisão de trabalho é bem menos formal, as pessoas tendem a se acomodar em certos papeis e as mesmas conseqüências seguem.


Responsabilidade e ser confiável tendem a ir à mesma direção uma vez que o padrão foi estabelecido. Quanto mais uma pessoa faz, mais ela, ou ele, sabem como fazer as coisas e sente vontade de se investir naquilo e ver as coisas acontecerem – e menos todas as outras pessoas fazem. Pior ainda, aquela pessoa pode se tornar alguém que não confia tarefas aos outros, assim como os outros deixam de saber exatamente quanto trabalho é necessário fazer e o que é necessário para fazê-lo. A Pessoa Responsável culpa os outros por não assumir responsabilidades que eles nem mesmo sabem que existem; os outros o (a) culpam pela sua hostilidade e ressentimento ― falta a eles o contexto para a compreensão.


Como um coletivo pode resistir essa odiosa tendência? Há a abordagem reformista: ficar atento àqueles que têm como resultado de suas tarefas poder e privilégio, tente manter aqueles que assumem papéis-chave fornecendo constantes feedbacks. E há a abordagem radical: troque as responsabilidades freqüentemente entre os participantes do coletivo, mantenha as coisas tão nebulosas que nenhum papel se cristalize dentro do seu coletivo. Na realidade, nenhuma estratégia pode funcionar sem a outra: a reestruturação radical dos nossos grupos de trabalho não pode, por ela mesma, desfazer os efeitos de décadas de condicionamento à hierarquia que todos já passamos. E ao mesmo tempo, é besteira pensar que pessoas dentro de estruturas que levam à especialização e centralização pode se comportar de forma diferente só porque elas decidiram.


Traduzindo[]

Comunicação é uma parte centro das atividades de um coletivo, e é uma arte vodu se é que já existiu uma. Não há duas pessoas que falam a mesma língua da mesma forma – palavras diferentes, gestos, ações sempre significam coisas diferentes para pessoas diferentes. Não fique bravo com problemas na comunicação. Não há um jeito “correto” de se comunicar nem um único jeito de lidar com as coisas; qualquer pessoa que te fale isso está tentando, conscientemente ou não, impor seu sistema pessoal ao cosmo. Por outro lado, algumas formas de trabalhar são melhores do que outras – no fim das contas o que importa é se o seu grupo achou uma forma de se comunicar ou um método de resolver as coisas um com os outros.


Sempre que a composição do seu grupo muda, ou mesmo quando ela continua a mesmo, mas as pessoas estão passando por mudanças, assim como todos nós o fazemos, você vai ter que descobrir como fazer tudo de novo. Quando você tem um ou dois membros novos, não parta do pressuposto que você pode simplesmente continuar marchando de acordo com os planos e procedimentos que tinha pensado antes. Reúnem-se e tenha certeza que todos puderam comentar sobre o que estão fazendo. Dessa forma todos terão um sentimento de ser parte daquilo que vocês fazem juntos.


Dinâmicas: Uma mesa redonda, não uma casa de representantes[]

Imagine os relacionamentos dentro de seu coletivo como um sistema que pode ser organizado: apoio e informação passam entre alguns membros mais do que em outros; laços de amizades são formados, ficam mais fortes, se soltam. Tudo isso é inevitável, e tudo bem, mas a forma geral do sistema tem efeitos críticos na forma que as coisas funcionam para aqueles que estão dentro deles. Alguns coletivos têm sistemas circulares, nos quais a comunicação acontece entre todos os participantes, ou, se dois membros não estão interagindo como os demais, eles estão ao menos ligados uns aos outros através de todos do grupo. Outros coletivos desenvolvem sistemas lineares, nos quais, em algum ponto da cadeia de relacionamentos, há uma pessoa que conecta um grupo ou indivíduo ao restante. O sistema circular é saudável e duradouro; o linear é mais perigoso e frágil.


A dinâmica linear nem sempre vem acompanhada de uma estrutura de poder hierarquizada – mas, no mínimo, eles tendem a encorajar a polarização do poder. As habilidades e necessidades das pessoas que ocupam as duas (ou mais) pontas da linha freqüentemente se desenvolvem sem a outra no que resulta em especialização dos interesses que pode levar ao conflito.


Comunicação, que normalmente resolveria esse tipo de problema, é especialmente difícil em um coletivo que tem uma dinâmica linear, isso porque a pessoa que liga as diferentes “alas” do coletivo tem que representá-los na mediar essa relação. A representação já é considerada pelos anarquistas como não-saudável e que tira o poder: os políticos que dizem representar os nossos interesses nessa chamada democracia inevitavelmente falham, um pessoa só pode conhecer os seus interesses ao se representar. Mesmo que o membro que fará a mediação faça todo o esforça necessário para representar as necessidades das diferentes partes uma para a outra, ele, ou ela, acaba fazendo um desserviço para ambas as partes ao possibilitar que eles evitam descobrir como se comunicar de forma direta. Além disso, o estresse que o membro que os representa sofre, especialmente se um dos lados está sendo agressivo, é inevitavelmente passado adiante – então não tente ser um herói, resolvendo os problemas de todo mundo e carregando o grupo para frente na força de sua diplomacia.


A dinâmica linear é um problema clássico para coletivos nos quais dois membros estão envolvidos romanticamente, pois em nossa sociedade as pessoas apaixonadas são encorajadas a se isolar e formar uma unidade. Culpe a monocultura monógama por isto. Isso não significa que quem está num relacionamento não pode participar de um mesmo coletivo, mas eles têm que ficar mais atentos à questão de manter sua comunicação individual e não deixar o outro o representar. Não-monogamia, nem tanto pelo sexo, mas pelas expectativas do relacionamento e suas dinâmicas, tem muito que nos ensinar sobre esse tópico (veja Relações Não-Monogâmicas).


Pode muito bem acontecer de, durante uma crise, um membro se isole do restante do grupo, temendo e ressentindo todos eles, exceto, talvez, um que sabe melhor como se comunicar com aquela pessoa. Essa situação não vai ser resolvida enquanto os outros não reconhecerem suas necessidades e o indivíduo conseguir sentir o apoio deles. Como o sucesso de qualquer coletivo depende de todos estarem envolvidos, isso deveria ser sempre possível de alguma forma – realmente deve ser, afinal, a longo prazo nenhum atalho ou substituto vai resolver.


Evitar uma dinâmica linear no coletivo é tão fácil quanto, e tão difícil quanto, resolver qualquer outro problema interno no coletivo: tome cuidado com padrões indesejados, mantenha canais de comunicação abertos, não seja tão insensível. Lembre-se de não carregar o peso de outra pessoa quando se trata de comunicação, assim como qualquer outra responsabilidade, lembre-se também de não ser tão difícil de se aproximar que as outras pessoas o evitem.


Não seja babaca[]

Se ao menos isso não precisasse ser dito! Você pode não achar que precisa até que, perseguindo suas visões de total revolução até onde a terra termina, você e seus amigos estão na sua primeira, ou qüinquagésima, tentativa real de catástrofe, e os ânimos começam a esquentar.


Se você gritar com os seus companheiros, desculpe-se explicitamente assim que puder, e tente descobrir as razões porque você perdeu a cabeça e tente evitar na próxima vez. Se algum deles, ou delas, gritar com você e depois se desculpe, deixe claro que você aceita as desculpas e que não guardou rancor, e pergunte se há algo que você pode fazer para evitar que isso aconteça novamente. Se nenhum pedido de desculpas é oferecido, se aproxime dele, ou dela, de uma forma não-ameaçadora e deixa claro o quanto é importante que conversem sobre o que aconteceu. Conversem uns com os outros constantemente – e não somente em reuniões formais, na qual alguns membros podem se sentir intimidados – sobre como vocês estão se comunicando e fazendo o outro se sentir. Peça por críticas construtivas, e leve as necessidades dos seus companheiros muito a sério - o seu coletivo depende disso.


Gritar com os seus companheiros é um comportamento abusivo e coercitivo. Esse tipo de comportamento pode vir de formas mais sutis: se isolar, sarcasmo, rir insensivelmente, se recusar a participar em discussões, dispensar as necessidades e pontos de vistas de outros. Forçar os outros a serem os responsáveis – sendo sempre aquele que bebe, nunca considerando as necessidades dos outros até que eles o lembrem, nunca se voluntariando para tarefas – ou absorver o estresse de seus chiliques porque você é muito sensível para um diálogo é coercitivo. Se você se pegar pensando se é necessário “jogar duro” com os seus camaradas levantando sua voz ou agindo de outros formas que os deixam desconfortáveis – ou por esse motivo pensando que eles, de alguma forma, merecem esse tratamento devido a algo que fizeram! – aí não tenha dúvidas: você está se tornando autoritário.


Faça-se acessível e disponível para diálogos a qualquer momento. Você pode não ser capaz de descobrir pelo que seus companheiros estão passando ou em que precisam de apoio – ou até mesmo se eles sequer estão passando por algo – só de olhar para eles de uma distância. Você tem que ser alguém que eles conhecem e possam pedir apoio, alguém que eles podem procurar não importa o que esteja acontecendo. Isso é importante para qualquer relação, mas especialmente para um grupo pequeno que está realizando estressantes projetos de longa duração em um espaço pequeno. Não fique muito confortável com o seu papel de apoiador também – você precisa se sentir tão confortável buscando apoio quanto o oferecendo. Quando estiver oferecendo apoio, tenha certeza que você o está recebendo de algum lugar também.


Finalmente, e acima de tudo – tenha certeza que você está fazendo algo que você realmente quer fazer. Isso vai fazer com que você fique mais acomodado e de bom humor, e você não vai sentir que precisa compensar pela sua atividade como servindo mesas ou preenchendo papéis. Se você realmente ama os projetos nos quais está envolvido e as pessoas que estão com você, não vai se importar com os desafios que vem com eles.


Proteja o seu idealismo[]

Parte de agir coletivamente é não esperar que você vai se desapontar. Sua fé nas outras pessoas, sua habilidade em acreditar que elas podem ser responsáveis por si mesmas e umas pelas outras, isso faz mais sentido com o que você está fazendo do que qualquer outra coisa – então tenha cuidado em não dar a qualquer um oportunidades desnecessárias para te desapontar. Aprender como avaliar exatamente o quanto você pode confiar em uma pessoa é uma habilidade essencial para aqueles que trabalham de forma cooperativa.


Da mesma forma, cuide dos seus próprios interesses da melhor forma que puder. Isso pode significar levar sempre com você um rolo de papel higiênico para quando não houver nenhum no banheiro do squat, você não vai culpar todo o movimento do lugar por isso ou chegar a uma demonstração com uma estratégia própria ao invés de esperar por instruções. Saiba do que você precisa e como pedir explicitamente por isso, mas seja auto-suficiente e durável também. Aproveite o desenvolvimento dessas qualidades em você mesmo, para que você possa considerar um excitante desafio quando tudo que você confiou que outros preparassem para o grande festival vá para o saco e você tenha que cuidar de tudo você mesmo. Isso será bem mais saudável e produtivo que se sentir como um mártir crucificado pela preguiça e estupidez de um mundo insensível.


No fim das contas, você deve ser capaz de ser bem sucedido em qualquer tipo de ambiente ou contexto cultural, e ser grato por qualquer coisa que as pessoas têm a oferecer a você, não importa quão humilde isso seja – já que em nossa rede fora da economia capitalista, onde nós dispensamos as noções de trabalho e dívida, e você será uma pessoa fácil para que todos trabalhem com – sem mencionar que você será mais feliz também.

Quando as coisas ficam difíceis[]

Lembre-se enquanto vivermos nessa sociedade que nos mata, relacionamentos problemáticos são inevitáveis. É por isso que nós estamos trabalhando pela revolução em primeiro lugar! A dinâmica dentro dos nossos grupos e em nós mesmos é um espelho dos padrões de conflito no mundo maior em volta de nós, e nós não podemos esperar que ele seja mais saudável do que é. A luta para curar um é a luta para curar outro e nenhuma luta será concluída enquanto ambos não estejam curados. A boa notícia enterrada nessa charada é que o que quer que você descubra que funciona dentro do seu pequeno grupo, provavelmente vai funcionar para mudar o mundo como um todo.


Pode ajudar, quando as coisas ficam realmente difíceis e você começa a ficar com vergonha do seu grupo, como se vocês fossem um bando de posers e não têm nada a oferecer para o mundo ou até mesmo um para o outro, considerar todas as coisas bonitas, importantes que anarquistas como você já conquistaram – aqueles discos ótimos de punk rock, a resistência na Guerra Civil Espanhola, as milhões de refeições servidas pelo Comida Não Bombas. Você pode ter certeza que todos esses esforços foram quase roubados dos dentes da discórdia interna, do ressentimento e pessimismo. Tudo de bom que conquistamos foi porque estamos dispostos a nos envolver em projetos que são imperfeitos – e a perdoar nós mesmos e nossos relacionamentos por essa imperfeição. A única coisa perfeita é a não-existência. Agüente mais um pouquinho e perceba o que vocês ainda podem conseguir juntos, não importa o quão falhos vocês sejam, antes de escolher por aquilo.


Efeitos colaterais e conseqüência[]

Mesmo com a melhor das dinâmicas internas que o anticapitalismo pode comprar, seu coletivo pode eventualmente se desfazer, ou você pode escolher deixá-lo. É inevitável, assim como a morte (e a eventual abolição dos impostos, pelo amor de deus!). As coisas podem até acabar em drama emocional e desapontamento. Não se culpe por isso – aprenda o que puder e vá em frente. Mais uma vez, nenhum de nós é perfeito, e reconhecendo isso, estando confortável com isso, é um esforço tão radical e positivo quanto nos melhorarmos.


O fato é que chega a um fim e que não significa que você está fazendo a coisa errada. Esse tipo de conclusão é remanescente da objeção que algumas pessoas fazem contra as relações não-monogâmicas. “Oh, eu conheço algumas pessoas que tentaram isso, mas eles acabaram terminando”. Ser capaz de ter relacionamentos saudáveis inclui saber como e quando terminá-los: a conclusão não é necessariamente uma indicação de problemas inerentes. Não ser capaz de terminá-los, por outro lado, pode ser – pense no casamento monogâmico miserável que se arrasta eternamente, os presos muito orgulhosos para admitir que não esteja funcionando.


Então, não se sinta desmoralizado quando o coletivo terminar – pegue cada lição que você aprendeu, cada habilidade que ganhou, cada idéia que ainda não foi concretizada e ponha-os em ação nos projetos dos seu próximo coletivo. Faça os lacaios do capitalismo se arrependeram que eles te deixaram escapar vivo, e que as comunidades que você se importa fiquem gratas por você ter sobrevivido.




  • Tradução de Flávia De Magalhães


Receitas Para o Desastre
Construindo Coalisões Coletivos Redução Corporativa