Eu não sei como vocês têm acompanhado as ultimas peripécias televisivas, que apesar de odiar tenho que conviver e com aqueles que a amam. Percebi como a coisa toda é envolvente, até mesmo a última atração exclusiva: a TV Julgamento (parece mais uma novela com um casal de protagonistas esquisitos e apáticos). Foi tão apelativo que a cobertura gerou uma histeria na moral e na consciência do povão, e os mais desavisados entravam na fila do fórum para currar os réus no tribunal, com direito a senha e rodízio de lugares aos bonitões destemidos, aos estudantes-de-direito-em-fim-de-curso, aos curiosos&esquizofrênicos e as simpatisíssimas donas-de-casa sedentas por justiça (sim a mesma senhora austera e cega que nos abandonou há muito tempo).
Esse espetáculo de hiperrealidade (sim, pois se a realidade é dura e fria a hiperrealidade é ofuscante e o seu neon luscofusco é alienante!) me trouxe uma pergunta e uma série de questionamentos, sobre o dito quarto poder, qual seu real poder? Certamente e inquestionavelmente a Mídia dirige mais opiniões do que se pode responsabilizar (não que isso fosse nescessário, ou esperado...), ela controla realmente o pensamento do rebanho, como um braço ideológico-cultural de um estado opressor em uma guerra mental, "uma guerra silenciosa e subliminar que ocorre nas ocultas frequências-ondas cerebrais"... aí surge minha segunda pergunta: Realmente existe uma força invisível por trás dessa manipulação? Seria a Mídia algo consciente que arquiteta seus passos como um habilidoso enxadrista mancomunado com terríveis Arcontes dominadores da nova ordem Mundial e do capital financeiro?
Eu sinceramente acho que isso é conspiração demais, até mesmo para mim. Acredito em ordens secretas (e em não tão secretas assim) de dominação, mas não com cadeias de suborno tão vastas e largas que atinjam a todas as engrenagens; acredito sim em guerras de subjugação cultural, mas não visando uma distopia doentia. Pode ser ingenuidade minha, mas eu trabalho com a hipótese de que o suborno e essa lavagem-cerebral sejam voluntários e não reconhecidos como tal, simplesmente os intermediários (no caso específico, os indivíduos, os laranjas) do processo de consumação da Mídia (e até mesmo do próprio Estado) são pessoas comuns e desapercebidas de suas funções na máquina e do incêndio aqui fora (longe dessa fantasia construída nos últimos tempos), pessoas comuns e que só querem batallhar por condições melhores (leia-se carro novo e casa de veraneio) e respeitando as regras do jogo que lhes é imposto.
Quando me dizem: "O Estado é responsável por isso..." "A Mídia quer aquilo ", como muitos outros que personificam ou dotam as instituições de vontade... Não, não acredito nessas falas, para mim é bem claro que as instituições nascem primeiro no coração dos homens e depois se cristaliza, elas são uma espécie de desespero coletivo, com cada formiguinha operária fazendo sua parte sem questionar; o cardume sincronizado para que não haja falhas, e se houver há o cuidado para eliminá-las sem deixar rastros..
Os homens se vencem por si mesmos, ou como alguém disse: o homem é o lobo do homem, não existem ameaças externas, o inimigo esta dentro de nós. A revolução não se fará sozinha ou com meia dúzia, mas com um coletivo de pequenas mudanças que alterarão o quadro final, a transmutação desse paradigma, esse zeitgeist-consciencial. Acredito muito na revolução de Gandhi, a revolução de hábitos, de consciência, as instituições dominadoras são idéias, e por isso mesmo a prova de explosivos, são quase uma nescessidades da nossa civilização atual e só com uma união de mudanças internas poderemos estar aptos a
novas possibilidades...
Já fale demais, agora quero ouvir de vocês, o que acham?