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Capítulo 1


Subcomandante Marcos
(Original em espanhol)

Participações de Immanuel Wallerstein, Carlos Antonio Aguirre Rojas e do Subcomandante Insurgente Marcos na conferência coletiva do dia 13 de dezembri às 9:00 da manhã, correspondente ao “Primeiro Colóquio Internacional In Memórian Andrés Aubry”.


O problema com a realidade, é que não entende nada de teoria” - Dom Durito da Lacandona


Elias Contreras, Comissão de Investigação do EZLN, dizia que a luta, a nossa luta pelo menos, podia ser explicada como uma luta de geografias e calendários. Ignoro se este companheiro, mais um dos mortos que por si só Anchor] , imaginou que suas teorias (“seus pensamentos”, dizia ele) seriam representadas ao lado de tantos renomados intelectuais como os que agora confluem ao sudeste estado mexicano de Chiapas. Tampouco sei se foi autorizado que eu, um subcomandante qualquer, tomasse alguns desses pensamentos e os expusesse publicamente.


Porém, tendo consciência da evidência de nosso baixo “rating”Anchor] midiático e teórico, creio que posso permitir-me expor as bases rudimentares desta teoria, tão diferente que é prática.


Não vou aborrecê-los contando-lhes a complicação sentimental de Elias Contreras que, como tod@s zapatistas, escolheu amar com desafio. Como se a ponte afetiva que se estende até o outr@, já não fosse por si só completo e complicado, Elias Contreras, contudo, somou às distâncias e muros que separam os calendários e as geografias, além do conhecimento, quer dizer, a respeito da existência do outro. Como se dessa forma ele (e com ele, o coletivo que somos) decidisse fazer todo o possível para que um ato tão antigo, comum e cotidiano como a existência do ser humano, se converta em algo extraordinário, terrível, maravilhoso.


Em vez de contar-lhes sobre a complicada e inquebrável ponte de amor de Elias Contreras por Magdalena (que não era nem homem e nem mulher, o que já é por si um desafio na luta de gênero), pensei então em trazer-lhes algo da música que toca nas comunidades zapatistas. Por exemplo, só ontem à noite escutei uma música que o “mestre de cerimônia” classificou como ritmo “corrido-cumbia-ranchera-norteña”. Que tal? Ritimo corrido-cumbia-ranchera-norteña.... se isso não é um desafio teórico, então não sei o que é. E não me perguntem como se toca ou se dança isso, porque eu não toco nem uma porta e, além disso, com a minha idade avançada, no baile tenho a graça de um elefante com unha encravada.


Faz mais de dois anos, nestas montanhas do sudeste mexicano, em ocasião das reuniões preparatórias do que depois se chamaria “A Outra CampanhaAnchor]”, uma mulher jovem disse, palavras mais, palavras menos, “se tua revolução não sabe dançar, não me convide à tua revoluçãoAnchor]”. Tempos depois, mas então nas montanhas do noroeste do México, voltei a escutas essas mesmas palavras da boca de um chefe indígena que se esforça por manter vivos os bailes e toda a cultura de nossos ancestrais.


Ao escutar ela e ao outro, em tempos distintos, eu voltei a olhar a uma das comandantas e lhe disse: Anchor] A Comandanta não deixou de olhar fazendo Anchor] , mas em voz baixa disse: “Urr Sup... Puta madre, veja que me dão pistas e lhes deixo o chão liso”.


Eu não lhes estarei mentirando. A verdade é que pensei que poderia trazer-lhes algumas histórias de Sombra o guerreiro, de Elias Contreras e a Magdalena, das mulheres zapatistas, das meninas e meninos que crescem em uma realidade diferente (olhe, não melhor, não pior, apenas diferente) à de seus pais, marcada por outra resistência, e até lhes contaria um conto da menina chamada “Dezembro” que, como seu nome indica, nasceu em Novembro. E pensei também por algumas musicas (sem irritar às presentes), mas é de todos conhecida a seriedade com a que os zapatistas abordam os temas teóricos, assim que só direi que vou encontrar alguma forma de ligar a teoria com o amor, a música e a dança. Talvez, conforme a teoria, não conseguiria explicar nada que valesse a pena, mas seria mais humano, porque a seriedade e o endurecimento não garantem o rigor científico.


Porém, bem, já estou indo de novo por outro lado. Dizia-lhes que Elias Contreras, Comissão de Investigação do EZLN, ele dizia que nossa luta podia ser entendida e explicada como uma luta de geografias e calendários. Em nossa participação como “teloneros”Anchor] dos pensamentos que nestes dias se congregam neste lugar e nestas datas, serão a geografia e o calendário... ou melhor, uma grande trança que entre ambos se amarra, um dos referenciais da nossa palavra.


Dizem nossos mais velhos que os primeiros deuses, os que fizeram o mundo, foram sete; que sete são as cores: o branco, o amarelo, o vermelho, o verde, o azul, o café e o preto; que são sete os pontos cardeais: acima, abaixo, adiante e atrás, um lado e o outro lado, e o centro; que sete são também os sentidos: olhar, degustar, tocar, ver, ouvir, pensar e sentir.


Sete serão então os fios desta grande trança, sempre incompleta, do pensamento zapatista.


Falemos, pois, da Geografia e o Calendário da Teoria. Para isto pensemos na cor branca lá em acima.

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Não temos a informação exata, mas no complexo calendário do pensamento teórico de cima, de suas ciências, técnicas e ferramentas, assim como de suas análises das realidades, houve um momento em que as pautas se definiam de um centro geográfico, e daí se estendiam até a periferia, como uma pedra arremessada no centro de um tanque cheio de água.

A pedra conceitual tocava a superfície da teoria e produzia uma série de ondas que afetavam e modificavam as distintas ocupações científicas e técnicas adjacentes. A consistência do pensamento analítico e reflexivo fazia, e faz, com que essas ondas se mantenham definidas... até que uma nova pedra conceitual caia e uma nova série de ondas mude a produção teórica. A mesma densidade da produção teórica talvez poderia explicar o por que as ondas, na maioria das vezes, não conseguem chegar à borda, quer dizer, à realidade.

“Paradigmas científicos” é assim que alguns chamam estes conceitos capazes de modificar, renovar e revolucionar o pensamento teórico.

Nesta concepção da ocupação teórica, nesta meta-teoria, se insiste não só na irrelevância da realidade, mas também, e, sobretudo, se alardeia que se tem prescindido completamente dela, num esforço de isolamento e higiene que, dizem, merece ser aplaudido.

A imagem do laboratório asséptico não só se limitou às chamadas “ciências naturais” ou as “ciências exatas”, não. Nos últimos saltos do sistema mundial capitalista, esta obsessão pela higiene anti-realidade alcançou às chamadas “ciências sociais”. Na comunidade científica mundial começou então a ganhar força a tese de “si a realidade não se comporta como indica a teoria, pior para a realidade”.

Mas voltemos ao tranqüilo tanque cheio de água da produção teórica e à pedra que tem alterado sua forma e conteúdo.

O reconhecimento desta aparente fragilidade do arcabouço conceitual científico significou aceitar que a produção teórica se renovava continuamente, inclusive dentro de seu pretenso isolamento da realidade. O laboratório (termo agora muito usado pelos chamados cientistas sociais para se referir às lutas dentro das sociedades) não poderia nunca reunir as condições ideais, por mais asséptico e esterilizado que esteja, para garantir a perpetuação que toda lei científica reclama. Daí que em sua própria ocupação, invade, uma ou outra vez, novos conceitos.

Nestas concepções, a idéia (o conceito, neste caso) precede à matéria e se atribui assim à ciência e à tecnologia a responsabilidade das grandes transformações da humanidade. E a idéia tem, segundo o caso, um produtor ou um enunciante: o indivíduo, o cientista neste caso.

Desde a ociosa reflexão de Descartes, a teoria de cima insiste na primazia da idéia sobre a matéria. O “penso, logo existo” definia também um centro, o eu individual, e o outro como uma periferia que se via afetada ou não pela percepção desse eu: afeto, ódio, medo, simpatia, atração, repulsa. O que estava fora do alcance da percepção do eu era, e é, inexistente.

Assim, o nascimento deste crime mundial chamado capitalismo é produto da máquina de vapor e não do despojo. E a etapa capitalista de globalização neoliberal começa com o surgimento da informática, da internet, do telefone celular, do mall, da sopa instantânea, do fast food; e não com o início de uma nova guerra de conquista em todo o planeta, a IV Guerra MundialAnchor].

No campo da tecnologia se repete o mesmo padrão. E se agrega que, como o conceito científico, a técnica nasce “inocente”, “livre de toda culpa”, “inspirada no bem da humanidade”. Einstein não é responsável pela bomba atômica, nem o senhor Graham Bell o é pelas fraudes via celular do homem mais rico do mundo, Carlos SlimAnchor].O coronel SandersAnchor] não é responsável pelas indigestões provocadas pelo Kentucky Fried Chiken, nem o senhor MacDonald pelos hambúrgueres de plástico reciclado.

Isto, que alguns desenvolveram e definiram como “objetividade científica”, criou a imagem do cientista que permeia ainda o imaginário popular: um homem, ou uma mulher, despenteado(a), com óculos, guarda-pó branco, com desalinho corporal e espacial, concentrados frente às provetas e matrazesAnchor] borbulhantes.

O autodenominado “cientista social” “comprou” esta mesma imagem, com algumas mudanças: no lugar de laboratório, um cubículo; no lugar de matrazes e provetas, livros e cadernos; no lugar de um guarda-pó branco, uma bata de cor escura; o mesmo desalinho; mas somado ao tabaco, café, brandy ou conhaque (também na ciência existe níveis, meu bem) e música de fundo, impensáveis num laboratório.

Contudo, uns e outros, concentrados como estavam em sua objetividade e assepsia, não advertiram a aparição e crescimento dos “comissários da ciência”, quer dizer, dos filósofos. Estes “juizes” do conhecimento, tão objetivos e neutros como seus vigiados, expropriaram o critério de cientificidade. Como a realidade não era o referencial para determinar a verdade ou a falsidade de uma teoria, então a filosofia passou a cumprir esse papel. Apareceu assim a “filosofia da ciência”, quer dizer, a teoria da teoria, a meta-teoria.

Mas a chamada “ciência social”, a filha bastarda do conhecimento, encontrou os filósofos com sobrecarga de trabalho ou com exigências difíceis de cumprir (do tipo “Se A é igual a B e B é igual a C, então A é igual a C”), assim, cada vez mais, os intelectuais da academia padecem como censores e comissários.

...

Mmm... creio que já demonstrei que posso ser tão obscuro e incompreensível como qualquer teórico que se respeite, mas estou seguro de que há uma forma mais simples de seguir com isto.

Assim aqui vou eu, no mais façam um ladinho, que Anchor] .

Em resumo, a conseqüência deste calendário e desta geografia é que lá acima a produção teórica não é mais que uma moda que se pensa, vê, cheira, gosta, toca, escuta e sente nos espaços da academia, nos laboratórios e institutos especializados.

Ou seja, a teoria é uma moda que tem nas teses (de pós-graduação, meu bem, também na academia há níveis), as conferências, as revistas especializadas e os livros, os substitutos das revistas de moda. Os colóquios suprem o lugar das exibições de moda, e aí os palestrantes do colóquio fazem o mesmo que as modelos na passarela, quer dizer, exibem sua anorexia, neste caso, sua magreza intelectual.

Pegue cada momento do surgimento de um desses paradigmas e encontrará um centro intelectual que disputa a descoberta. As universidades européias e os institutos tecnológicos da América do Norte repetem a listagem da moda: Paris, Roma, Londres, Nova York (lamento se rompo alguma ilusão, mas não aparecem o Tec de MonterryAnchor], nem a IberoAnchor], nem a UDLAAnchor]).

Com isto quero dizer que o mundo científico construiu uma torre de cristal (mas chumbada) com suas próprias leis e adornada com vitrais churriguerescosAnchor] que elaboram os intelectuais ad hoc.

Para esse mundo, essa torre e suas pent-houses, não se poderá acessar a realidade até que credite estudos de pós-graduação e um currículum, prestem atenção, tão gordos quanto à carteira.

Assim se apresenta à maioria das pessoas, e assim se auto-representa à comunidade científica. Mas uma observação atenta e crítica, uma dessas tão escassas agora, permitiria ver o que acontece na realidade.

Se o novo paradigma é o mercado e a imagem idílica da modernidade é o Anchor] ou o centro comercial, imaginemos, então, uma sucessão de estantes cheias de idéias, ou melhor, ainda, uma loja de departamento com teorias para cada ocasião. Não será difícil então imaginar o grande capitalista ou o governante da vez recorrendo ao corredor, pesquisando preços e qualidades dos distintos pensamentos, e adquirindo aqueles que se adaptam melhor a suas necessidades.

Lá acima, toda teoria que se respeite deve cumprir uma dupla função: por um lado desprezar a responsabilidade de um fato com uma argumentação, que não é por ser elaborada que é menos ridícula; e, pelo outro, ocultar a realidade (quer dizer, garantir a impunidade).

Na explicação da desgraça aparecem exemplos:

O senhor CalderónAnchor] (que alguns desorientados consideram o presidente do México), disfarçado de militar, encontra na teoria lunática a explicação das catástrofes que assolaram TabascoAnchor] e Chiapas (como antes assolaram Sonora e SinaloaAnchor]) e ordena a suas tropas que lhe proporcionem uma capacidade de convencimento impossível de construir sobre este castelo de cartas adulteradas que foi a eleição presidencial de 2006Anchor]. Seu fracasso, tão pouco informado nos meios de comunicação, era previsível: consegue mais no TeletonAnchor] que no Estado Maior presidencial. Deslocando a responsabilidade para a lua (que, diga-se de passagem, é rancorosa, como conta a lenda da origem da Sombra, o guerreiro – mas isto ficará, se é que vai ficar, para outro dia), Calderón oculta sua responsabilidade e a daqueles que o antecederam. Resultado: se cria uma comissão para investigar... astronomia, e dar-lhe, alem da pobreza das armas, alguma base legítima para este culto a HuertaAnchor] Anchor] segundo confissão própria, dos jogos cibernéticos militares. Seguramente, se a lua se nega a aceitar sua culpabilidade, o titular do IV Reich lhe dirá, com olhar duro e decidido: Anchor].Anchor]

O senhor Héctor Aguilar CamínAnchor], o protótipo do intelectual não de cima (é o que ele mais quer), e sim acimista, reescreve o “Livro Branco” com o qual a PGR zedilistaAnchor] quis explicar, sem êxito algum, a matança de ActealAnchor] (que neste 22 de dezembro completa 10 anos sem verdade nem justiça). Fiel ao patrão atual, Aguilar Camín busca, inutilmente, desviar a indignação que novamente se levanta, ocultando um crime de Estado e deslocando a responsabilidade aos assassinados... aos mortos.

Felipe Calderón e Héctor Aguilar Camín, um vestido comicamente de militar e outro pateticamente disfarçado de intelectual. O primeiro maldizendo a quem o recomendou comprar a teoria da lua, e o segundo recorrendo aos escritórios governamentais e quartéis militares colocando a venda seu inútil detergente para limpar manchas de sangue.

É esta, a teoria branca e imaculada de cima, a que domina no decadente mundo científico. Frente a cada um de seus estalos teóricos, também chamados pomposamente de “revoluções científicas”, o pensamento progressista em geral se vê obrigado a remar contra a corrente. Com o par de remos da crítica e da honestidade, os pensadores (ou teóricos, ainda que seja comum usar este termo como depreciativo) de esquerda devem questionar a avalanche de evidências que, com a fantasia da cientificidade, sepultam a realidade.

O referencial desta tarefa crítica é a ciência social. Mas se esta se limita a expressar desejos, juízos, condenações e receitas (como agora fazem alguns teóricos de esquerda no México), invés de tratar de entender para tratar de explicar, sua produção teórica não é só incapaz, mas na maioria das vezes, patética.

É, então, quando a distância entre teoria e realidade não só se converte num abismo, mas também se apresenta no triste espetáculo de autodenominados científicos sociais jogando-se com singular alegria ao vazio conceitual.

Talvez algum@, dos que nos escutam ou lêem, conheçam esses comerciais que anunciam produtos para emagrecer sem fazer exercícios e se entupindo de garnachasAnchor] e comida rica em “hidrocarbonetos”. Sei que é pouco provável que alguém daqui conheça isto, pois estou seguro que se encontram imersos em questões realmente importantes da teoria, assim permitam-me dar-lhes um exemplo: há um anuncio de uma bolacha de comer, e elas podem lhes dar o corpo de Angelina Jolie (suspiro), ou podem chegar a ter o corpo atlético do Sup-Marcos (arrrrrroz com leite!)... um momento! Eu escrevi isto que acabo de dizer? Mmh... não, não creio, minha modéstia é lendária, assim apaguem esta parte de seus apontamentos. Onde estava? Ah sim, na bolacha que vos dará um corpo espetacular e isso sem fazer mais exercícios que o de levar o produto à boca e mastigá-lo.

Da mesma forma, nos últimos anos ganhou forças, no meio intelectual progressista do México, a idéia na qual se pode transformar as relações sociais sem lutar e sem mexer nos privilégios de que desfrutam os poderosos. Só é necessário assinar a cédula eleitoral e zaz!, o país se transforma, proliferam-se as pistas de patinação no gelo e as praias artificiais, as corridas de automóveis em Reforma, as periferias com segundo piso incluído e as construções do bicentenário (você tem notado que não se fala do centenário?). Veja, nem sequer é necessário vigiar a eleição para que não se converta em uma fraude e em um filme que a documente.

A submissão com que isto foi adquirido, digerido e difundido por boa parte da intelectualidade progressista do México não deveria estranhar, sobretudo, se levado em conta que o outro, o pensar, o analisar, o debater e o criticar, custa mais, quer dizer, é mais caro.

O que surpreende é a virulência e ruindade com que atacaram, e atacam, a quem não engole essa bolacha dietética, perdão, essa roda de moinho.

Dou-lhes outro exemplo:

Na Cidade do México tem-se realizado um despojo impecável e obtido apoio e/ou o silencio cúmplice dessa intelectualidade. Um governo de “esquerda moderna” conseguiu o que a direita não podia: despojar a cidade e ao país do ZócaloAnchor].

Sem necessidade de leis reguladoras de caminhadas e comícios, sem necessidade das assinaturas que os panistasAnchor] tiveram que falsificar, o governo de Marcelo Ebrad toma o Zócalo, o entrega a empresas comerciais (por aí lemos que era de se louvar que não houvera custado nada ao governo do Distrito Federal e que tudo tinha sido custeado por empresas privadas que, por certo, incluem uma das emissoras de TV “vetadas” pelo lopezobradorismo), constrói uma pista de patinação no gelo e zaz!, durante dois meses, nada de comícios ou manifestações nesta praça que o movimento estudantil de 1968 arrancou às celebrações oficiais.

Sem mais CND-lópezobradoristaAnchor], Sem mais invasões de multidões à catedral, nada de gritos que não sejam aqueles dos que caem, nada de comícios nem marchas, sem mais gritos, faixas, indignação.

Para os 10 meses restantes do ano, o “esquedoso” Ebrard já pensou novos projetos que façam os capitalistas sentir que estão em alguma outra metrópole muito “chic”.

Faz apenas alguns dias, o chamado Frente Nacional Contra a Repressão descobriu que a caminhada que havia convocado para o Zócalo não poderia se realizar lá porque a pista de patinação estava ocupada.

Não protestaram contra este despojo, simplesmente trocaram de lugar. Depois de tudo, não havia por que interferir do espírito novayorkino que agora se respira no Distrito Federal... nem nas vendas de patins de gelo nos grandes centros comerciais.

Não só não se impediu o despojo, não só não se criticou, além disto se aplaudiu e celebrou com fotos coloridas na primeira página, crônicas e entrevistas, este evento “histórico” que poupou os defeños[27]''' das longas filas para obter o visto norteamericano e o custo do transporte e da hospedagem em Nova York dos filmes que vêem Marcelo Ebrard e sua aspirante à Cristina Kirchner autóctona.

Se isto recorda o método de “pão e circo” tão caro aos governos priístas, é esquece que continua faltando o alimento, pois o único PANAnchor] que existe é o partido que agora se aproveita da queda de Calderón Hinojosa, com quem toda classe política se relaciona em privado e se desentende em público.

Tudo isso se passa e se celebra porque o senhor Ebrard não saiu na Anchor] foto com Felipe Calderón e porque disse que é de esquerda... ainda que governe como a direita, com desocupação e roubos disfarçados de espetáculo e ordem.

E estes intelectuais de esquerda?

Bom, aplausos para a desocupação dos bairros (com acusação de narcotráfico que nunca foram provadas), mais aplausos para a desocupação do comércio ambulante no centro histórico (para acabar de entregá-lo à iniciativa privada), mais aplausos às garotas propaganda nas corridas de automóveis na avenida Reforma...

|O que mudou, meu bem, das barracas “''all included” de plantão contra a fraude, ao glamour da velocidade num esporte tão de massa, tão popular e tão sem patrocínio como é o das corridas de automóveis; do “grito dos livres” contra o espúrioà aspiração de ser subsede da olimpíada de inverno; não, meu bem, não importa se isso não é de esquerda, mas que''' Anchor] !; olhe, estes patins eu os tenho em várias combinações: tricolores para os nostálgicos, azuis para os benzidos, e amarelo com negro para os ingênuos; há também com as cores para a criançada, digo, do perdido que aparece, não crê? Agora que a patinação sobre gelo é para gente esbelta, de modo que incluo estas bolachas que lhes deixam mais magro que um apertão no metrô em hora de pico. O que? Você é ''skater@? Não lhe disse? Por isto este país não progride, onde quer abundar essa gente suja, feia, mal e, para acabar de amolar, carente. Ora, ao menos o dê o seguro desemprego e eu não o digo nada...|'''

Frente à desocupação de famílias no bairro valente de Tepito, o silêncio ou a justificativa frívola e servil: “está se combatendo a delinqüência”, assinalou um intelectual e aspirante fracassado à reitoria da UNAMAnchor], e uma foto em primeira página mostrava uma menina sentada sobre os poucos móveis que sua família resgatou de uma das desocupações. A filosofia de Rudolph Giulianni, importada de Nova York (como a pista de patinação) por López Obrador com a justificativa de “primeiro os pobres”, agora produz uma argumentação intelectual: essa menina era uma narcotraficante em potencial... agora é... nada.

Já não se quer ocultar que a chamada esquerda institucional não é de esquerda, agora se apresenta como uma virtude, da mesma forma que se anuncia um café descafeinado com a virtude de que não Anchor] É esta esquerda a qual alguns intelectuais progressistas (seja como for aí os homens são maioria) apresentam como o único referencial aceitável, maduro, responsável e possível para a transformação social.

Contudo, e felizmente, nem todo o pensamento progressista é “bem comportado”.

Alguns homens e mulheres têm feito do pensamento analítico e reflexivo, palavra incômoda e a contrapelo. Nestes dias poderemos escutar alguns dessas pensador@s. Não estão todos os que o são, nem são todos os que estão, mas o saber de seu navegar rio acima no leito do conhecimento é um alívio para aqueles que às vezes imaginam que não estamos sós.

Por isto saúdo nesta primeira rodada a Immanuel Wallerstein e Carlos Aguirre Rojas.

Refletindo sobre algo do trabalho teórico deles, apresentamos...

ALGUMAS TESES SOBRE A LUTA ANTI-SISTÊMICA.

UM – Não se pode entender e explicar o sistema capitalista sem o conceito de guerra. Sua sobrevivência e seu crescimento dependem primordialmente da guerra e de tudo o que ela se associa e implica. Por meio dela e nela, o capitalismo despoja, explora, reprime e discrimina. Na etapa de globalização neoliberal, o capitalismo faz guerra à humanidade inteira.

DOIS – Para aumentar seu lucro, os capitalistas não só recorrem à redução dos custos de produção ou ao aumento de preços de venda das mercadorias. Isto é correto, porém incompleto. Há pelo menos mais três outras formas: uma é o aumento da produtividade; outra é a produção de novas mercadorias; uma outra é a abertura de novos mercados.

TRÊS – A produção de novas mercadorias e a abertura de novos mercados é conseguida agora com a conquista e reconquista de territórios e espaços sociais que antes não tinham interesses para o capital. Conhecimentos ancestrais e códigos genéticos, além de recursos naturais como a água, os bosques e o ar são agora mercadorias com mercados abertos ou por abrir. Quem se encontra nos espaços e territórios com estas e outras mercadorias, são, querendo ou não, inimigos do capital.

QUATRO – O capitalismo não tem como destino inevitável sua autodestruição, a menos que inclua o mundo inteiro. As versões apocalípticas sobre o colapso do sistema por si mesmo são erradas. Como indígenas, levamos vários séculos escutando profecias neste sentido.

CINCO – A destruição do sistema capitalista só se realizará se um ou muitos movimentos o enfrentem e o derrotem em seu núcleo central, quer dizer, na propriedade privada dos meios de produção e de troca.

SEIS – As transformações reais de uma sociedade, quer dizer, das relações sócias em um momento histórico, como bem assinala Wallerstein em alguns de seus textos, são as que vão dirigidas ao sistema em seu conjunto. Atualmente não são possíveis os remendos ou as reformas. Em troca são possíveis e necessários os movimentos anti-sistêmicos.

SETE – As grandes transformações não começam acima nem como fatos monumentais e épicos, e sim com movimentos pequenos em sua forma e que aparecem como irrelevantes para o político e analista de cima. A história não se transforma a partir de praças cheias ou multidões indignadas, e sim, como assinala Carlos Aguirre Rojas, a partir da consciência organizada de grupos e coletivos que se conhecem e se reconhecem mutuamente, abaixo e à esquerda, e constituem outra política.

Acreditamos que temos que desalambarAnchor] a teoria, e fazê-la com a prática. Mas isto talvez possa explicar melhor Daniel Viglietti esta noite, quando assume parte da culpa que tem que eu esteja por trás desta máscara, em vez de estar atrás de um violão tentando o ritmo corrido-cumbi-hanchera-nortña.

Assim são as coisas, creio que sempre assim. Daniel Viglietti cantará esta noite, assim haverá música e dança.

Talvez cheguem também, nestes dias, Elias Contreras e Magdalena, Sombra, Dezembro e as mulheres zapatistas.

E talvez Andrés Aubry sorria vendo e escutando tudo, contente de não estar nesta mesa onde nunca acabava de dizer o que tinha para dizer-nos, porque vivia à vida agradecendo e, invariavelmente, na metade de sua comunicação lhe passavam o papelzinho de “tempo”.

De modo que, antes de o passem a mim, gracias, nos vemos na tarde.

Subcomandante Insurgente Marcos.

San Cristobal de Las Casas, Chiapas, México.

13 de dezembro de 2007.


Anchor] O "rating" no mercado financeiro é uma opinião sobre a capacidade de um país ou uma empresa saldar seus compromissos financeiros. A avaliação é feita por empresas especializadas, as agências de classificação de risco, que emitem notas.

Anchor] Trazer nota sobre a outra campanha para cá.

Anchor] Frase famosa – ver de quem

Anchor] Bandas menores que abrem os shows. (N.T.)

Anchor] Ou a guerra que o neo-liberalismo lançou a todo o mundo nesta etapa do capitalismo. Após a III Guerra Mundial, a Guerra Fria, o neo-liberalismo ataca seletivamente, escolhendo quais seres devem ou não viver, é uma guerra de conquista de todos os espaços do planeta pelo mercado mundial. Ver texto A Quarta Guerra Mundial já começou em FELICE, Massimo di e MUÑOZ, Cristobal (org). A Revolução Invencível.** Subcomandante Marcos e Exército Zapatista de Libertação Nacional. Cartas e Comunicados. São Paulo: Boitempo, 1998.

Anchor] Empresário mexicano de telecomunicações, eleito em 2007 o homem mais rico do mundo. O espanto é que desta vez o homem cifras é um cidadão de um país subdesenvolvido, de um país do terceiro mundo. (N.T.)

Anchor] Quem é coronel Sanders e o que é Kentucky Fried Chiken.

Anchor] Recipiente usado em laboratórios com boca estreita e corpo largo.

Anchor] Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Monterrey (ITSM), multi-campus, México. Este é um centro educacional tecnológico que oferecem cursos de tecnologia (como os CEFET’s no Brasil). (N.T.)

Anchor] Universidade Iberoamericana, cidade do México. (N.T.)

Anchor] Universidad De Las Américas, cidade do México, D.F., México. (N.T.)

Anchor] Estilo inspirado no barroco empregado por José Benito Churriguera e seus imitadores no século XVIII e caracterizado por uma exuberante ornamentação. Dicionário www.elmundo.es. (N.T.)

Anchor] Felipe de Jesús Calderón Hinojosa, advogado, eleito em 2006 à presidência do México pelo Partido da Ação Nacional (PAN), o mesmo do presidente anterior, Vicente Fox. (N.T.)

Anchor] Estado mexicano ao leste de Chiapas. (N.T.) Explicar melhor a trajédia, inundação que ele vai falar nos textos posteriores.

Anchor] Estados mexicanos ao norte do país. Sonora faz divisa com os EUA. (N.T.)

Anchor] Referência a disputa entre Calderón (PAN) e Lópes Obrador do Partido da Revolução Democrática (PRD) em 2006 que concedeu uma vitória muito apertada ao primeiro. Obrador contestou a vitória e acusou o PAN de fraudar as eleições. (N.T.)

Anchor] Evento que arrecada recursos para doação à organizações e entidades que cuidam de deficientes físicos e crianças portadores de deficiência.

Anchor] Presitente mexicano, pesquisar.

Anchor] No original se lê “¡bájate o mando por ti!”.

Anchor] Jornalista, escritor, empresário e historiador mexicano, graduado na Universidad Iberoamericana, com doutorado em história no Colégio de México. (N.T.)

Anchor] Inserir nota

Anchor] Chacina de 45 indígenas tzotziles provocada por paramilitares (supostamente os Máscara Roja) em 22 de dezembro de 1997 na localidade de Acteal em Chiapas. (N.T.)

Anchor] Provavelmente uma variedade de uvas muito doces. (N.T.)

Anchor] Praça central onde era tradicional as manifestações na Cidade do México.

Anchor] Partidários do PAN. (N.T.)

Anchor] Convención Nacional Democrática. Organização política inicialmente convocada pelo EZLN e sociedade civil e posteriormente tomada pelas forças da esquerda institucional, momento em que os zapatistas se retiram. Posteriormente a CND fica nas mãos do Partido da Revolução Democrática (PRD) de Lopez Obrador. (N.T.)

Anchor] Nascidos em df -melhorar

Anchor] Uma inferência em duplo sentido entre a palavra “pão” (em espanhol “pan”) e o partido PAN.

Anchor] Universidad Nacional Autónoma de México, multi-campus, México. (N.T.)

Anchor] Música do músico uruguaio Daniel Viglietti. (N.T.)


Anchor Anchor]Que de por si somos.

Anchor Anchor]Ahí le hablan jovena

Anchor Anchor]Concurrencia? Não faz sentido, se fosse conferência, mas no áudio também aparece concurrência.

Anchor Anchor] Essa frase eu não sei se ta bem traduzida. E respingar não poderia colocar como cuspir?

Anchor Anchor]Procurar a tradução desta palavra.

Anchor Anchor]Não entendi bem essa colocação da palavra Amantes.

Anchor Anchor]Essa frase deve ter uma outra tradução. A tradução literal parece não funcionar aqui.

Anchor Anchor]Tem que arrumar isso aqui que eu não consegui encaixar.

Anchor Anchor]Não achei tradução ainda. Porque estava camuflagem? Não achei nada referente a isso.

Todo esse itálico tem que melhorar, ta muito intruncado.

Anchor Anchor]Ta meio sem sentido essa parte.


Nem o centro e nem a periferia
Nem o centro e nem a periferia Acima, pensar o Branco - a geografia e o calendário da teoria Escutar o amarelo - a geografia e o calendário da diferença
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